Por que os Batistas batizam somente por imersão?

Os Batistas consideram o batismo uma ordenança instituída por Cristo, de modo que todos os que se converteram a Cristo devem, em algum momento, ser batizados.

Embora o batismo não seja necessário para a salvação (cf. .Lucas 23:43, Efésios 2:8), ele representa um ato de obediência para aqueles que já foram salvos pela graça, por meio da fé. Através do batismo, o crente faz uma profissão pública de sua fé em Jesus Cristo.

A Bíblia não determina um local específico para o batismo; ele pode ser realizado em batistérios, piscinas, rios ou em qualquer lugar que disponha de água suficiente para a imersão.

A seguir, serão apresentadas algumas razões bíblicas e teológicas pelas quais os Batistas realizam o batismo exclusivamente por imersão.

1. O significado da palavra batismo

O batismo por imersão é concebido como o método mais fiel à prática descrita no Novo Testamento, onde a palavra grega “baptizo” significa “mergulhar” ou “imergir”.

A etimologia da palavra “baptizo” é importante para compreender a intenção original dos autores bíblicos. Diferente de outras palavras gregas que poderiam ser empregadas para descrever ações como “aspergir” (rantizo) ou “derramar” (cheo), “baptizo” implica uma imersão total. Essa distinção linguística reforça a ideia de que o batismo por imersão é o método mais apropriado.

Embora a análise contextual seja o método mais robusto de exegese, superando a mera análise etimológica da palavra em si, o contexto das passagens no Novo Testamento em que a palavra “baptizo” é utilizada também indica o batismo por imersão, corroborando o significado de sua etimologia.

2. A prática no Novo Testamento

Não existe nenhum versículo sequer no Novo Testamento que diga que algum batismo foi feito de outra forma que não seja por imersão, e ao contrário disso, temos textos claros mostrando batismos feitos por imersão.

Primeiramente, temos como exemplo o próprio Jesus Cristo, que foi batizado por meio de imersão (Mateus 3:16, Marcos 1:9-10). A descrição do batismo de Jesus nos Evangelhos simbolizou sua obediência a Deus Pai, mas também forneceu um modelo a ser seguido por seus discípulos.

Outro exemplo bíblico está em Atos 8:38-39, onde Filipe batizou o eunuco etíope por imersão. O eunuco etíope estava viajando uma longa distância e, como era costume na época, deveria estar levando água consigo. Se houvesse outra forma adequada de batismo, Filipe poderia ter usado a água que o eunuco estava carregando e simplesmente derramado um pouco sobre ele. No entanto, vemos que eles desceram da carruagem, entraram na água e foi realizado o batismo por imersão. Esta narrativa demonstra claramente a prática de imersão como a forma adequada de batismo, mesmo quando outras opções estavam disponíveis.

Podemos citar também o texto de João 3:23, onde João Batista estava batizando em Enom, perto de Salim, “porque havia ali muitas águas”. A necessidade de muita água implica que o batismo por imersão estava sendo praticado, pois uma pequena quantidade de água seria suficiente para aspersão ou derramamento.

Em Atos 19:4-5, Paulo encontra alguns discípulos em Éfeso que haviam sido batizados no batismo de João, e ele os batiza novamente, desta vez em nome do Senhor Jesus. O contexto sugere que eles foram batizados por imersão, seguindo a prática comum estabelecida anteriormente por João Batista.

3. O simbolismo do batismo

A imersão no batismo simboliza de forma poderosa a nossa identificação com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo.

Romanos 6:3-4 afirma: “Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova.”

Esse simbolismo é capturado perfeitamente através da imersão, onde o crente é “sepultado” na água (representando a morte e sepultamento de Cristo, bem como a morte para a velha vida do crente) e então “erguido” da água (representando a ressurreição de Cristo e a nova vida do crente).

Colossenses 2:12 também reforça esse simbolismo: “fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; e, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova”.

Somente o batismo por imersão cumpre fielmente o simbolismo bíblico do batismo. Aspersão ou derramamento de água não capturam plenamente o profundo significado da morte e ressurreição de Cristo, assim como o simbolismo da morte do crente para a velha vida e a “ressurreição” para uma nova vida.

4. Os primeiros batistas batizavam por imersão

Embora, esse não seja um ponto que defina o motivo dos batistas realizarem o batismo por imersão. Um ponto frequentemente levantado, é a questão do batismo por imersão entre os primeiros batistas. Este distintivo dos batistas seria um ponto doutrinário que muitos afirmam que até 1644, com a “primeira confissão” de fé Batista de Londres,  os batistas não realizavam a imersão, e deve-se aos batistas particulares a retomada dessa doutrina bíblica e batista. Mas será mesmo?

Ao analisar a história, a afirmação de que os batistas particulares teriam retomado a imersão, sendo que até esta data todos grupos cristãos, reformados ou não, praticariam a afusão ou aspersão parece um crédito equivocado. Para começar, antes dos batistas ascenderem como movimento, os anabatistas eram praticantes da imersão, em 1523 um livreto anabatista denominado Sum of the Holy Scripture de língua alemã afirmava que “As águas do batismo não tiram nossos pecados como se fossem águas preciosas […] somos mergulhados na água […] prometeu fazer quando somos batizados e tem o mesmo significado para nós, somos mergulhados na água”. Até mesmo Mennon Simons, líder anabatista conhecido como menonita dizia que “Depois de termos procurado tão diligentemente, não encontramos outro batismo além da imersão em água, que seja aceitável perante Deus e mantido em Sua Palavra”.

Além desses, temos ainda, para citar por agora, o testemunho de um luterano sobre o batismo por imersão dos anabatistas. O luterano Johannes Kessler (1503–1574), em uma obra compilada sobre crônicas da Reforma Protestante denominada Sabbata, mais precisamente numa obra chamada Gerchichte der Taufe (História do Batismo) afirma que Conrad Grebel batizava por imersão, no caso aqui um ex-monge chamado Wolfgang Ulimann (? – 1528), que se tornou líder dos anabatistas, ele diz que Ulliman, quando batizado por Grebel teria sido imergido: “Wolfgang Uolimann, na sua viagem para Schaffhausen, encontrou Conrad Grebel, o qual o instruiu tão fortemente no conhecimento anabatista que ele não foi aspergido com um prato, mas foi mergulhado e coberto pelas águas do rio Reno”, mais uma vez corroborando a prática do imersionismo, agora por um dos pastores mais influentes do movimento anabatista da época da Reforma.

Entre os batistas, antes de 1644, podemos citar alguns personagens entre os primeiros batistas que praticavam o imersionismo. Começamos com Leonard Busher, um membro da igreja batista de Hewlys e Smyth, que aderiu às questões soteriológicas particulares (batista particular). Ele é geralmente lembrado pela defesa batista da separação entre Igreja e Estado, mas “esquecido” na questão do batismo por imersão.

Busher afirma, na sua obra “Religious Peace or a Plea for Liberty of Conscience” de 1614, que “Cristo ordenou aos seus discípulos a ensinar a todas as nações e batizá-las, isto é, pregar a palavra da salvação para toda criatura de toda sorte de nação que são dignas e desejam recebê-la. E então, recebendo-a desejosamente e alegremente, Ele comandou batizá-las na água, isto é, imergir para a morte na água”. Busher era membro da Igreja Batista comandada por Thomas Hewlys, considerada a primeira igreja batista moderna.

Além dele, sucedendo Hewlys no pastoreio, o pastor John Morton também afirma a imersão. Numa anotação marginal no livro de E. Jessop, defendendo o credobatismo e a imersão, ele diz: “(Para vós) o batismo de Cristo é (o tipo de) coisa das quais (bebês) não são habilitados. (Nesse caso eles) seriam afogados como muitos (foram) na história, agora é feita uma nova (forma) para eles, (chamada) aspergir suas (cabeças) ao invés de imergir, (que) é o que a palavra batismo significa”.

Na própria igreja JLJ, da qual se afirma ter surgido o grupo que deu origem aos batistas particulares, a imersão já era praticada anteriormente. Isso é atestado por Daniel Feathley, um antagonista dos batistas, que diz que durante vinte anos, os batistas “se aglomeram em grandes multidões para seus Jordões, e ambos os sexos entram no rio, e são mergulhados à sua maneira, com uma espécie de feitiço dentro da cabeça de seus princípios errôneos”. A obra é de 1645, o que coloca a prática da imersão anterior a 1625.

Até mesmo na igreja JLJ existe um documento da época de John Lathrop, ou seja, anterior a 1634, que menciona as práticas imersionistas. O documento é denominado “To Sions Virgins:: or, A Short Forme of Catechisme of the Doctrine of Baptisme, in Use in These Times that are so Full of Questions”.

Portanto, os indícios são de que os batistas já aderiram a prática do batismo por imersão desde o seu princípio.

Sobre o batismo por imersão entre os primeiros batistas, leia o artigo completo em: htps://www.igrejabatista.net/checamos/os-primeiros-batistas-nao-batizavam-por-imersao-o-que-so-veio-acontecer-com-os-batistas-particulares-sera

Conclusão

A prática de realizar o batismo por meio da imersão na água não é meramente uma questão de tradição, mas um entendimento teológico que reflete a compreensão bíblica do significado e do simbolismo do batismo. Por meio da imersão, os Batistas procuram obedecer a ordem de Jesus testemunhando publicamente a fé em Cristo.

Esta prática está fundamentada na etimologia da palavra “baptizo”, nos exemplos claros de batismos no Novo Testamento e no simbolismo poderoso da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo.

Muitos estudiosos defendem que a prática da igreja primitiva era predominantemente, se não exclusivamente, por imersão. Isso é apoiado por registros históricos e arqueológicos, como antigos batistérios que eram projetados para permitir a imersão completa.

O batismo por imersão também simboliza a morte do crente para a velha vida e seu renascimento para uma nova vida em Cristo. É um ato de obediência que demonstra a fé do crente com o Senhor. Ao seguir este modelo, os Batistas honram o exemplo de Jesus e a prática da igreja primitiva, mantendo a integridade do significado bíblico do batismo.

Pr. Anderson Weige Dias.

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